O QUITUNGO - ou casa de farinha, ou ainda, cozinha de farinha - é onde se produz a farinha de mandioca e uma grande diversidade de beijus.
É lugar do encontro familiar e afetivo, onde as raízes da mandioca são processadas, enquanto se coloca as conversas em dia. Depois de raspadas, as raízes partem para o ralador e dele para a prensa, onde sua toxidade é extraída. Parte das raízes raladas vai para a água, de onde brota a goma, utilizada na produção de tapioca, polvilho e beiju. Outra parte segue para o forno, onde a farinha é torrada até o ponto desejado.
QUITUNGO é espaço da criatividade, onde saberes são evocados para a criação das deliciosas iguarias nascidas da mãe mandioca: farinha, farinha de côco, beiju de massa e de goma, beiju na palha da bananeira, pamonha molhada com leite de côco, tapioca... Alimentos para o corpo, o espírito e a memória acerca da ancestralidade afro-brasileira.
O QUITUNGO muito representa o território do Sapê do Norte (municípios de Conceição da Barra e São Mateus, divisa entre o Espírito Santo e a Bahia), onde vivem dezenas de comunidades quilombolas que praticam com maestria esses saberes desde muito, muitos tempos... Chegados aqui desde os dolorosos tempos do cativeiro, africanas e africanos subverteram o processo opressor com a manifestação de diversos saberes-fazeres, aliados aos saberes dos povos originários locais. E assim aconteceu com a culinária nascida do processamento da mandioca, que representa uma marca desta resistência no território.
O projeto QUITUNGO nasce do desejo de ser um acervo com variadas referências para se conhecer o Sapê do Norte. Foi produzido no âmbito da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) - Campus São Mateus, sob a coordenação da Professora Doutora Simone Raquel Batista Ferreira, com a participação das pesquisadoras Flávia dos Santos e Otaciliana Domingos de Oliveira Broseghini - estudantes quilombolas do curso de Licenciatura em Educação do Campo - e com a colaboração dos professores Osvaldo Martins de Oliveira (UFES), Vânia Maria Losada Moreira (UFRRJ) e Hugo Ricardo Soares. Para esta realização, contou com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES - Edital Universal 28/2022).